A sessão da Câmara Municipal de Campo Novo do Parecis, realizada nesta segunda-feira, voltou a expor um cenário preocupante: a aparente falta de empenho de parte dos vereadores na fiscalização dos recursos públicos e na análise das obras executadas por empreendimentos privados e loteamentos aprovados pelo município.
Apesar de reiteradas denúncias, matérias jornalísticas e apelos populares por maior transparência, a maioria dos parlamentares parece optar pelo silêncio e pela repetição de discursos prontos, sem apresentar ações concretas de controle ou cobrança de responsabilidade. O que deveria ser uma sessão de debate e fiscalização transformou-se em um palco de ataques pessoais e narrativas políticas contra secretarios da gestão.
Obras milionárias sem respostas
Entre os casos mais questionados está o projeto do Hospital Municipal, amplamente divulgado pela gestão anterior como um avanço histórico para a saúde pública local. O empreendimento, no entanto, nunca saiu do papel, mesmo após o pagamento de valores expressivos para sua elaboração. O resultado é um projeto abandonado e esquecido, que hoje simboliza o desperdício de recursos e a falta de compromisso com a população.
Outro exemplo é a revitalização da Praça Central “Viaduto do Rafinha”, cujos valores aplicados levantam dúvidas sobre possíveis irregularidades e sobrepreço. Mesmo diante das evidências e da cobrança pública por esclarecimentos, a Câmara ainda não abriu qualquer procedimento formal de investigação, tampouco convocou responsáveis para prestar esclarecimentos.
Padrinhos políticos e o retrocesso do debate público
Em meio às omissões, chama atenção o comportamento de parlamentares que tentam disfarçar antigos vínculos políticos e resgatar figuras do passado. Durante a sessão, um vereador chegou a afirmar sentir “saudade” do ex-prefeito Rafael Machado, chegando a usar a expressão “volta, Rafael” em tribuna.
O parlamentar, notoriamente ligado ao ex-gestor, tem reiterado discursos de exaltação pessoal e de apelo político, chegando a afirmar que “para ser bom tem que ser aliado de ex-prefeito”, falas que enfraquecem a independência do Legislativo e ferem o princípio da impessoalidade que deve reger a administração pública.
Dever de fiscalização é obrigação, não escolha
Diante de todos esses fatos, o que se observa é um Legislativo cada vez mais distante de seu papel fiscalizador e cada vez mais refém de alianças e apadrinhamentos políticos.
A Constituição Federal é clara: fiscalizar os atos do Executivo é dever do vereador, e não um favor eventual ou seletivo. Quando a Câmara se omite, quem perde é a população — que paga impostos, acredita nas promessas e continua à espera de obras que nunca se concretizam.
O cidadão campo-novense espera de seus representantes postura, coragem e independência. O momento exige uma Câmara que investigue, cobre e atue, e não uma que se esconda atrás de discursos ensaiados ou saudades políticas.
Em tempos de desconfiança e cobrança social, a omissão pode ser tão grave quanto a conivência.