Campo Novo do Parecis (MT) — A denúncia feita pela deputada estadual Janaína Riva sobre assédio e importunação sexual sofridos por parte de um servidor público expôs novamente uma ferida aberta na política de Mato Grosso e do Brasil: até quando partidos e lideranças políticas vão aceitar ou até apoiar figuras públicas envolvidas em casos de assédio, importunação ou qualquer tipo de violência contra mulheres?
Janaína, reconhecida como uma das vozes femininas mais fortes do Estado, denunciou um ato que ultrapassa o campo político e invade a dignidade pessoal e moral de qualquer mulher. A parlamentar relatou ter sido vítima de importunação sexual e violência política de gênero, um crime repugnante que atinge não só ela, mas simboliza o que milhares de mulheres enfrentam diariamente em silêncio. “Se isso acontece comigo, imagina o que acontece com as mulheres e meninas de Mato Grosso”, declarou Janaína, com firmeza.
O caso gerou grande repercussão e levou entidades como a Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso a manifestarem apoio à deputada, classificando o episódio como um claro ato de violência política de gênero. Mas, para além da solidariedade, a denúncia trouxe à tona um questionamento ético que precisa ser respondido com urgência: partidos políticos vão continuar aceitando, abrigando ou financiando candidaturas de pessoas condenadas ou denunciadas por assédio, importunação e outros crimes contra mulheres?
Nos bastidores, o debate é incômodo e direto. Enquanto discursos de moralidade e ética são usados como bandeira pública, há líderes e candidatos que continuam sendo amparados, mesmo após condenações por assédio moral, improbidade administrativa ou denúncias graves de comportamento abusivo. Em Mato Grosso, por exemplo, o presidente do CRECI, Claudecir Contraera, foi condenado por assédio moral contra uma servidora e citado em reportagens estaduais por suposto acobertamento de casos de assédio sexual dentro da autarquia. Mesmo assim, aparece nas redes sociais ao lado de figuras importantes da política mato-grossense, como o senador Wellington Fagundes, declarando apoio e sendo tratado como possível candidato a deputado federal.
A sociedade precisa saber: isso será aceito pelos partidos? A política e os interesses eleitorais estão acima da dignidade das mulheres? É essa a mensagem que querem passar para uma geração que luta contra o machismo, o abuso e o silêncio? Não se pode pregar moralidade e justiça em discursos públicos e, ao mesmo tempo, fechar os olhos para casos de assédio e humilhação. Isso é hipocrisia.
O episódio vivido por Janaína Riva é mais do que um ataque pessoal. É um alerta. Mostra que o machismo e o abuso de poder continuam presentes, muitas vezes travestidos de normalidade ou de “brincadeira política”. Mostra também que ainda falta coerência entre o que se fala e o que se pratica dentro dos partidos. A verdade é dura, mas necessária: quem protege ou apoia pessoas condenadas por crimes dessa natureza está sendo cúmplice de um sistema que oprime mulheres todos os dias.
Janaína Riva hoje representa não apenas uma cadeira no Legislativo, mas uma voz que ecoa em nome de todas as mulheres que já foram desrespeitadas, caladas ou desacreditadas. Sua coragem precisa servir de exemplo e, acima de tudo, de divisor de águas. Porque, se a política quer recuperar a confiança do povo, precisa começar pelo básico: respeitar a mulher, a lei e a coerência moral.
A sociedade não quer mais discursos, quer atitudes. E cabe aos partidos e lideranças decidir se vão continuar acobertando práticas inaceitáveis ou se finalmente vão mostrar que ética e respeito valem mais que alianças e conveniências. O caso de Janaína Riva não pode ser apenas mais um episódio. Deve ser o ponto de virada.
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