Em Campo Novo do Parecis, uma criança de apenas três anos de idade vive uma realidade que expõe, de forma dura e incontestável, a fragilidade da saúde pública quando a burocracia se sobrepõe à urgência médica. Trata-se criança, que enfrenta há anos um quadro clínico grave, progressivo e amplamente documentado, aguardando uma cirurgia essencial pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sem qualquer previsão de atendimento por parte do Estado de Mato Grosso.
O caso não se baseia em relatos informais, versões familiares ou suposições. Ele está formalmente comprovado em relatório clínico assinado por médico especialista em otorrinolaringologia, com registro profissional regular no Estado. O documento descreve um quadro preocupante: obstrução nasal persistente, roncos noturnos, atraso no desenvolvimento da linguagem, hipertrofia de adenoide e de amígdalas palatinas, além de obstrução nasofaríngea significativa, constatada por exame de imagem. A audiometria realizada demonstra perda auditiva condutiva bilateral decorrente de otite média secretora crônica, condição que, quando não tratada de forma adequada e em tempo oportuno, pode resultar em danos permanentes à audição e prejuízos irreversíveis ao desenvolvimento da fala.
Diante desse conjunto de achados clínicos e exames complementares, o laudo médico é claro e objetivo ao concluir pela necessidade de intervenção cirúrgica. A indicação envolve adenoamigdalectomia associada à timpanotomia com colocação de tubos de ventilação bilateral, procedimento amplamente reconhecido na literatura médica como essencial para preservar funções respiratórias, auditivas e cognitivas em crianças pequenas. O próprio relatório ressalta que a indicação cirúrgica se justifica justamente pelos prejuízos já existentes e pelo risco de agravamento do quadro caso a intervenção continue sendo adiada.
Todo o trâmite exigido pelo SUS foi devidamente cumprido. A criança foi encaminhada para a APS e para a Central de Regulação, por meio do Consórcio Intermunicipal de Saúde da Região do Médio Norte Matogrossense (CISMORTE). Ou seja, não há pendência documental, ausência de laudo ou falta de solicitação formal. Ainda assim, a família segue sem resposta concreta, inserida em uma fila considerada por profissionais e usuários do sistema como interminável, sem prazo definido, sem transparência e sem qualquer sinal de prioridade, mesmo diante de um caso pediátrico com laudo que aponta risco de sequelas.
Enquanto isso, a realidade diária da criança é marcada por sofrimento contínuo. O uso recorrente de medicamentos, as dores frequentes, as dificuldades respiratórias durante o sono e a perda auditiva progressiva interferem diretamente na qualidade de vida e no desenvolvimento neurológico e linguístico. Em idade em que cada mês é determinante para a formação da fala, da audição e da socialização, a espera se transforma em um fator de agravamento clínico, ampliando o risco de consequências que podem acompanhar a criança por toda a vida.
O silêncio do Estado diante de um laudo médico tão claro levanta questionamentos legítimos e inevitáveis. Em um cenário em que o Governo de Mato Grosso investe cifras bilionárias em parques, eventos, festas, megashows e obras de grande visibilidade, causa indignação que uma cirurgia pediátrica essencial, comprovadamente necessária, não encontre a mesma prioridade. A discussão não se resume a orçamento ou gestão administrativa; trata-se de escolha política e de definição de prioridades públicas.
A Constituição Federal estabelece que a saúde é direito de todos e dever do Estado, com atendimento integral e prioritário, especialmente quando envolve crianças. Quando um laudo médico especializado aponta urgência e risco de sequelas, a ausência de resposta deixa de ser apenas um problema de fila e passa a configurar omissão institucional. Cada dia de espera representa não apenas a continuidade da dor, mas a possibilidade concreta de danos permanentes à audição e ao desenvolvimento da linguagem.
Diante desse cenário, o Plantão CNP cobra publicamente e de forma responsável uma manifestação oficial do Governo do Estado de Mato Grosso e da Secretaria Estadual de Saúde, comandada por Gilberto Figueiredo. A população tem o direito de saber por que um caso com documentação médica completa, indicação cirúrgica formal e evidente urgência permanece sem solução. A sociedade precisa compreender quais critérios estão sendo adotados para definir prioridades e por que uma criança de três anos, com risco comprovado de sequelas, segue aguardando indefinidamente.
O espaço para resposta permanece aberto. O direito ao contraditório e à manifestação oficial é garantido. No entanto, o silêncio também comunica e será devidamente registrado. O que está em jogo não é apenas um procedimento cirúrgico, mas o futuro, a dignidade e o direito básico à saúde de uma criança. A população mato-grossense é chamada a refletir sobre que modelo de Estado está sendo construído, quais vidas são priorizadas e até que ponto o espetáculo pode se sobrepor ao cuidado com quem mais precisa.
Criança não pode esperar. Laudo médico não é opinião. Saúde pública exige ação, responsabilidade e humanidade. O caso segue sendo acompanhado e novas informações serão divulgadas assim que houver posicionamento oficial do Estado.







